24.10.10

Fogo

Tenho certeza que o sol brilha pra todos, mas eu sou um dos que insiste em nunca tirar os óculos escuros.
Como a chama da Fênix, o sol brilha sobre as mentiras e idiossincrasias desprezíveis que me fazem ser o que sou. Um brilho sobre a solidão que a deixa em sombras.
A solidão é algo construído por partes.
Como se cada péssima ação que se cometesse te deixasse um passo mais próximo de estar só com você mesmo. Solidão, esquecimento, isolamento.

É algo estranho, como ser esquecido por amigos e inimigos. Com uma perversa lógica da parte de cada um.
Dos inimigos, é sempre mais simples. Porque eu mato meus inimigos. Sempre.
Não literalmente, claro, mas no subconsciente.
Busco sempre agir de acordo comigo mesmo, sem pensar nas ações de adversários, como se eu fosse mais responsável por mim mesmo do que eles. O que não deixa de ser verdade.
Aos amigos, porém, sobra a pior das partes.
Não sei como suportam-me com esse modo de ser. E como insisto meu modo de ser, nem percebo quando tudo vai pros ares.
E logo não há mais nenhum destes por perto.

Estranho como o tempo passa e é chegada uma hora de se retirar as lentes escuras, em pleno meio-dia, fazendo os olhos se umedecerem. O brilho dói e irrita, mas é algo a ser feito.
Assim como espadas forjadas de ferro em brasas, há de se sair do fogo.
Das chamas tornar-se renovado, tornar-se renascido.

3 comentários:

Anônimo disse...

Ah, cara... não é bm abandono, literalmente falando... Cada um vai cuidando de sua vida, sas prioridades e interesses imediatistas impostos pela alienante socieda em conjugação com a consciência e cultura do ter em detrimento do ser... Já reparou que muita gente diz que "tem" amigos? Quantos desses realmente "são" amigos? É a fetichização da amizade... A coisificação dos relacionamentos, a superficialização dos sentimentos. Bem-vindo à modernidade, à fase adulta. I'm not gonna lie: it sucks to the bones.

Velho, te curto pacas. De um jeito amistoso. De um jeito que te entende. De um jeito que sente por não poder estar perto nesses rompantes de solidão e raiva. Cara, quando quiser, se quiser conversar com esse lesado aqui, tô disponível e mais perto (geograficamente falando). Vamos marcar, pô! Ou passa em casa. Tô pertinho da Prefeitura (por enquanto, pelo menos). Abraço.

Anônimo disse...

Algumas partes do teu texto me chamaram uma atenção singular. Matas os teus inimigos no subconsciente, sabes que é a mais forte forma de "matar" alguém ou algo. Se os teus amigos somem porque não suportam, pense bem se é certo chamá-los de amigos. O mais importante é que estás a operar mudanças em ti. Que elas te sirvam pra melhor.
;*
fazia tempo que não vinha por aqui, senti falta de identificar-me com tuas palavras.

Thaís Borba disse...

Adorei seu texto, me fez refletir e tentar entender quais as lentes escuras em minha vida...

Te seguindo aqui... :)

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